de Jim McGuiggan

 

Era 11 de julho de 1971 – um ano muito bom. Na Irlanda do Norte, aquela semana de julho significa bandas de flautas, procissões de gente marchando pelos milhares; bandeiras do Reino Unido; meio fio pintado vermelho, branco e azul; ruas decoradas e muros pintados; danças na rua e fogueiras em cada cruzamento. E tinha bebida – sim, bastante bebida – e bares lotados até a porta. Era a época quando os Protestantes/da União comemoraram uma antiga vitória sobre as forças Nacionalistas/Católicas.

Um dos milhares de marchadores na “Ordem Laranja” foi Johnny Martin, que cada ano carregava a espada simbólica enquanto desfilava em triunfo para o Campo. Lá, a multidão, cansada da marcha, estaria grata por sentar e escutar uma série de oradores chamando-os a manterem a União (com Grã Bretanha). Johnny era um pintor por profissão e um beberrão por hábito. Eu conheci Johnny quando sua esposa, Peggy, estava muito doente com o câncer que roubaria sua vida com uma brutal rapidez aos trinta e oito anos, forçando-a a deixar para trás uma filha, Ethel, e dois filhos, Jackie e Roy. Mais tarde Johnny casaria de novo, e sua esposa dedicada, Helen, teria um filho, Paul.

 

Quando Ethel e sua filha, Linda, foram ver a fogueira naquele 11 de julho, Johnny havia já ficado bêbado e sóbrio algumas vezes no mesmo dia. Lá veio ele, marchando na rua, chumbado de novo, mais uísque no bolso e bastante tempo para tragar. Ele tentou abraçar sua neta de seis anos, Linda, mas, ela começou a chorar volumosas lágrimas e a dizer que ela não gostava do cheiro que ele tinha naquele momento. Isso quebrou o coração dele. Lá, naquela hora ele jurou a ela que nunca mais beberia de novo. Naquela noite ele entregou sua vida a Cristo, largou a bebida, e Johnny Martin não bebeu um só gole em mais de vinte anos.

Maravilha! Este tipo de reviravolta não é raro, mas, de qualquer forma é notável.

É fascinante quantas coisas Deus usa na busca de nos transformar. Até as coisas que Deus não nos traz diretamente (coisas como uma criança nascida com uma doença grave) podem ser usadas para tocar os nossos corações. Um evento trágico, um belo livro, um filme brilhante, a paciência de um cônjuge, o sofrimento de crianças inocentes, o espectro da morte, a lealdade de um amigo, a força e sensibilidade de um homem fisicamente forte. As lágrimas de Linda, de seis anos, tocaram as cordas do coração de Johnny Martin.

A história é contada de um homem que levou sua filha a uma galeria de arte. Ela não mostrou interesse até que eles encontraram um quadro com um homem cansado, batendo numa porta. O quadro mostrava pessoas do outro lado da porta, e parecia que elas não tinham nenhuma intenção de abri-la. Ela ficou fascinada.

“Quem é esse”? ela perguntou ao seu pai. Como é que ela saberia que a pergunta perturbaria o coração dele – um coração que estava numa luta com dúvidas profundas?

“Não vão deixar ele entrar”?

“É Jesus” ele falou, com constrangimento em sua voz.

Houve uma pausa, e ela perguntou de novo: “Não vão deixar ele entrar”?

Inquietação aumentou no homem, mas, ele não podia desviar a atenção da menina. Finalmente em voz baixa, ele falou “Não, não vão deixar ele entrar.”

Ligeira como a luz, ela perguntou “Ele é mau”?

E ele respondeu rapidamente “Não! Ele não é mau.”

Mais rapidamente ainda ela inquiriu “Então, por que é que não deixam ele entrar”?

Agora ele estava realmente incomodado. Ele não agüentou mais. Enquanto andava com ela, para cada vez mais longe do quadro, ele ouviu sua própria voz falar bruscamente “Como é que eu sei”?

Ela sentiu a tensão e não falou mais. Mas, de vez em quando, seus olhos grandes e escuros olharam para ele e depois na direção do quadro. Ela sabia que ele sabia alguma coisa que não estava contando.

No jantar, nada foi falado, mas os olhos continuaram falando. Depois do jantar, ela se preparou para dormir. Em seu pijama e com pasta de dente ainda na boca, ela subiu no colo dele e lhe deu um longo e forte abraço. Aí, ela o beijou, desceu para ir ao quarto, parou, virou, e disse: “A gente deixaria ele entrar, não é pai”?

Daí ela foi dormir feito um anjo, enquanto um homem maduro passou uma noite em claro, Deus alavancando seu coração com as palavras de uma criança.

Eu soube que, tal como o meu sogro, Johnny Martin, aquele homem “deixou ele entrar”.

 

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