de Carlos Eduardo Félix

 

 

Foi sutil e breve, mágico e real, triste e cômico.
Aquela criança pegou em minha mão como se eu fosse seu porto seguro e me falou com palavras arrastadas e olhos fitados em mim: “Moço, compre um pão para que eu possa comer”.

Por um momento esqueci o que estava fazendo no centro da cidade do Recife. Por um momento tive um nó em minha garganta e uma vontade louca de levar aquele garoto para casa, dar-lhe pão, amor, carinho e uma vida; Por um momento me neguei a querer soltar sua pequena mão. Por um momento queria abraçá-lo. Por um momento não queria comprar um pão, e sim toda uma padaria, se assim fosse possível.

Cabelos sujos, pele morena, olhos de criança e um sorriso angelical. Aquele era apenas mais uma de tantas crianças perdidas pelas ruas da Veneza brasileira.

Enquanto sua mão perdia-se na minha fomos juntos a uma lanchonete e lá Jorge fez sua primeira refeição do dia.

Há uma mão que Deus adora segurar.

Não foi isso que ele fez com o cego em uma aldeia de pescadores conhecida como Betsaida?

Jesus tinha acabado de entrar naquela cidade e de repente um grupo de pessoas levou aquele cego para o carpinteiro de Nazaré.

Era comum a cegueira naquela época por falta de higiene e por causa da poeira que cobria tudo. Pessoas eram encontradas nas ruas com os olhos infeccionados e cobertos por moscas.

Ser cego significava também ser uma desgraça social, um peso para a humanidade, sendo comparado aos mortos.

Um homem pode nascer pobre e ser feliz mais não será feliz vivendo só.

Aquele homem suplicava de Jesus sua cura, sua oportunidade de uma nova vida, sua chance de não ser mais só, e talvez poder construir uma família.

Para aquela sociedade aquele homem era um lixo. Para aquele homem que o observava com os olhos de um pai, era sua imagem e semelhança.

“Ele tomou o cego pela mão…” (Mc 8.23).

Não perca isso de vista.
Agora é aquele momento entre o final da ultima nota e os aplausos.É o instante entre uma dor quase insuportável e o som do primeiro choro de mais uma criança que veio ao mundo.

Jesus poderia ter curado aquele homem simplesmente com um balançar de sua cabeça, com um piscar de olhos ou simplesmente dizendo, “eu quero, seja curado”. Ele já tinha feito outras vezes.

Mas, esta vez não. Jesus queria dar mais que uma cura para aquele cego. Ele queria pegar em sua mão.

Aquele homem viveu toda sua vida só. Todas as mãos que ele segurou foram para guiá-lo a algum lugar, mas, nunca para tirá-lo da escuridão.

Agora era diferente. Aquele que estava pegando em sua mão podia trazer luz para seus olhos e para sua vida.

Há uma mão que Deus adora segurar.

Enquanto filhos e cônjuges choram diante de uma sepultura a perda do seu amado, uma mão ferida por cravos romanos de quinze centímetros está sobre eles.

A mãe que chora por seus filhos sente aquela mão. A jovem esposa que descobre que nunca poderá dar a luz sente seu toque. A mulher e o homem que receberam a noticia de um médico: lamentamos informar, mais o resultado é positivo e vamos ter que fazer a cirurgia – todos estes sentem sua presença.

Ele poderia simplesmente te dar a cura, o emprego, o carro, a viagem, a oportunidade, os filhos, o cônjuge. Mas, como Jesus fez com aquele cego, ele quer fazer com você. Ele quer dar não apenas a cura, mas pegar em tua mão.

Ao sairmos da lanchonete, Jorge olhou para mim e falou: “Obrigado, tio, nunca vou esquecer de você”.

Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto aquela criança de mãos pequenas e olhos angelicais se perdia na multidão.

Ele lembrará de mim porque minha mão não se fechou para ele e eu nunca esquecerei de Jorge porque suas mãos procuraram a minha.

Há uma mão que Deus adora segurar e essa mão é a sua.
Por que você não a dá para ele?

 

 

Mais meditações de Carlos Eduardo podem ser encontrados
no seu livro “UmDeus Que É Vidrado em Você” da Editora Vida Cristã.

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