de Germana Gusmão Downing
Estando Jesus em Betânia, reclinado à mesa na casa de um homem conhecido como Simão, o leproso, aproximou-se dele certa mulher com um frasco de alabastro contendo um perfume muito caro, feito de nardo puro. Ela quebrou o frasco e derramou o perfume sobre a cabeça de Jesus. Alguns dos presentes começaram a dizer uns aos outros, indignados: “Por que este desperdício de perfume? Ele poderia ser vendido por trezentos denáriosb, e o dinheiro ser dado aos pobres”. E a repreendiam severamente. “Deixem-na em paz”, disse Jesus. “Por que a estão perturbando? Ela praticou uma boa ação para comigo.” Marcos 14:3-6
Eu não sou uma pessoa naturalmente compassiva, nem misericordiosa. Durante minha juventude eu não conseguia enxergar bem as necessidades da pessoa que estava sofrendo. Talvez porque até então eu nunca tivera passado por grandes infelicidades. Mas qualquer pessoa que viver tempo suficiente aqui neste mundo, sem dúvida, conhecerá sua porção de decepções, tristezas, perdas. Com a graça de Deus eu tenho experienciado minha porção de dor, mas Deus tem me sustentado, e às vezes até carregado. E com o poder dele, espero que esses desafios não sejam em vão, mas que, ao contrário, me tornem numa pessoa mais capaz de reconhecer o “necessitado”, não necessariamente materialmente falando, mas aquele que necessita de ajuda e conforto.
Talvez seja por isso que fico fascinada com a narrativa em Marcos 14:1-10. A história de uma mulher que reconheceu o sofrimento e a necessidade daquele que curou e ajudou com as necessidades e tantos.
Esta passagem é muito interessante, pois acontece em Jerusalém, e,como o texto nos informa, a apenas dois dias para a celebração da Páscoa. Como sabemos, a celebração da Páscoa era o grande evento anual no calendário judaico, especialmente em Jerusalém, centro religioso. Esperaríamos que os líderes religiosos estivessem fazendo muitos preparativos que facilitassem o “reavivamento”espiritual do povo naquela época do ano, pois a Páscoa relembrava o grande livramento que Deus dera aos israelitas, tirando-os do cativeiro e escravidão.
Entretanto, para nossa surpresa, lemos que os chefes dos sacerdotes e os mestres da lei estavam procurando um meio de flagrar Jesus em algum erro e matá-lo. Tiveram o cuidado para fazê-lo de tal modo que não causasse tumulto entre o povo (v.1-2). Em outras palavras, que causasse menos problemas para eles e para sua reputação.
No final desta narrativa, também somos informados de que “Judas Iscariotes, um dos doze, dirigiu-se aos chefes dos sacerdotes a fim de lhes entregar Jesus”(v.10) As negociações entre Judas e aqueles líderes religiosos foram tão satisfatórias que Judas até seria pago para fazer a entrega.
Entre estas duas cenas, onde vemos líderes religiosos (Judas estava entre os doze e, portanto, fazia parte de um grupo privilegiado!) engajados em tais atividades às vésperas da Páscoa, encontramos uma a mulher que, de repente, na casa de Simão, o leproso, unge Jesus com um perfume caríssimo! Os que estavam presente ficaram indignados com a extravagância, pois de acordo com o texto, o perfume valia cerca de seis mil reais (em valores de 2011) e, portanto, se vendido, poderia ser usado para coisas muito mais “importantes”!
Provavelmente, alguns dos discípulos estavam no grupo que deu um grande carão na mulher. Mas, Jesus saiu na defesa dela:
“Deixem-na em paz,… Por que a estão perturbando? Ela praticou uma boa ação para comigo…Ela fez o que pôde. Derramou o perfume em meu corpo antecipadamente, preparando-o para o sepultamento”(v.6,8), disse Ele.
Sabemos muito pouco sobre esta mulher. Se ela tinha uma má fama, não o sabemos com certeza. Será que ela era solteira? Casada? Separada? Mãe solteira? Gorda? Magra? Bonita? Feia? Culta? Analfabeta? Alta ou baixa? Não sabemos da cor da pele dela, nem da saúde dela. Só sabemos que era uma mulher e que ouviu “poucas e boas” devido à sua ação em relação a Jesus.
Mas Ele a defendeu, a tal ponto de dizer que onde fosse pregado o evangelho, também seria contado o que ela fez “em sua memória”. Para sempre lembrada pelo seu amor e devoção a Jesus.
Então, por que será que o Mestre valorizou tanto o gesto dessa mulher, mesmo que aos olhos de outros tivesse sido um desperdício? Talvez a resposta esteja nas palavras do próprio Jesus: “Derramou o perfume em meu corpo antecipadamente, preparando-o para a sepultura”.
Nosso Senhor sabia o que estava para acontecer. Sua prisão, tortura e morte estavam bem próximas. E como será que Ele estava se sentindo? Como será que ele estava se sentindo sabendo que pelo mesmo três vezes, ao tentar comunicar aos doze apóstolos o que estava para acontecer, estes reagiram de maneira bem mundana, chegando ao ponto de discutirem entre si quem teria mais poder uma vez que Jesus não mais estivesse com eles?
Como será que ele se sentia sabendo que muitos judeus, apesar de conhecerem as Escrituras e as profecias sobre o Messias, não reconheceram o Messias quando este esteve diante deles, falou aos seus ouvidos, e curou os seus corpos?
Como será que ele estava se sentindo sabendo que esta provavelmente seria umas das últimas refeições prazerosas da sua vida terrena (talvez a última), uma vez que na próxima narrativa, na última ceia, Ele já teria que tocar no indesejável assunto de traição (de Judas) e abandono (de todo o grupo)?
Como será que Ele estava se sentindo, sabendo como seria sua prisão, tortura e morte, e todos os maus tratos que ele em breve receberia daqueles a quem ele viera salvar?
No meio de toda esta tempestade na vida de Jesus, vem então esta bonança, esta calmaria no gesto dessa mulher. Até parece que ela era a única na qual havia “caído a ficha”, e que compreendia o que nosso Senhor estava passando.
É verdade que nós não podemos mais ungir Jesus com um perfume caríssimo, às vésperas da sua morte. Mas se olharmos ao nosso redor, talvez possamos enxergar alguém que esteja também passando por uma tempestade de angústia, solidão, abandono, rejeição.
Lembremo-nos do exemplo dessa mulher. Ela fez o que pôde. Às vezes só temos um abraço para dar, mas pode ser exatamente o que a outra pessoa está precisando. Pode ser que tudo que você tem é tempo para ouvir o desabafo de alguém que está sofrendo. Para a pessoa que é ouvida, você estará fazendo uma boa ação para com ela. Você estará fazendo tudo que pôde.
Uma visita ao hospital, um bolo preparado com amor, um cartão com uma palavra de encorajamento, um e-mail dizendo que você está orando… Pequenos gestos, que podem ser muito valiosos para alguém passando pelo fogo. Pode haver formas de ajudar além do seu alcance. Mas, sempre há algo, por mais simples que seja, que você pode fazer.
Não fique paralisado porque não pode fazer o impossível. Faça o que pode! Para Jesus – isso é tudo!
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