de Dorian Anderson Soutto

 

 

Edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo cume toque no céu, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra. Gênesis 11:4

Quando eu trabalhava com artes gráficas o que mais se ouvia era: “Um nome é tudo!”. E desde que me conheço por gente sempre me preocupei com o meu nome, o que as pessoas iriam pensar, ou o que fazer para que meu nome sobressaísse sobre os outros nomes. Na roda de amigos eu tinha que fazer alguma gracinha, ou comentar algum assunto que atraísse a atenção para mim. Tinha que usar roupa da moda, falar a gíria do momento, saber o que se passava na TV e ouvir as músicas que estouravam nas paradas.

Vejo isto hoje em minhas filhas. Parece que estão em constante disputa, e quando chegam as amiguinhas não é diferente; disputa-se até quem é mais amiga de quem. Em visita a um casal de amigos, eles me apresentaram a netinha de 2 anos de idade. A avó dizia: “mostra o barrigão para o tio”, e aquela jóia linda levantava a camiseta e falava ‘baigão’, e estufava a barriguinha. Com isso aprendo a lição que para ela o ‘baigão’ era sinônimo de status, embora ela nem saiba o que é isto.

Não precisa estudar muito para descobrir que por natureza gostamos de aparecer. Até a timidez é uma forma de chamar a atenção, pois uma pessoa tímida se destaca das outras.

Também podemos observar isto nas discussões em grupos. Quando duas pessoas estão discutindo e as outras olhando, nenhuma das duas quer “perder”. Vejo isto em mim mesmo e nas pessoas de meu convívio. Minha mãe discute com meu pai se a aventura do carro quebrado foi em 1970 ou 1968. Meus amigos de trabalho discutem se o jogador tal foi do time tal no ano tal. Vou jantar na casa de um casal e vejo discutirem se foi a tia Maria ou a Tia Virgínia que quebrou o braço em 1995; e assim vai…

Por coisas tão irrelevantes discutimos, e tudo isto pode estar escondendo apenas o fato de querermos aparecer. E pior que isto é que por trás pode existir um sussurro em nossos ouvidos dizendo: “Façamos um nome”.

Mas o que importa é que isto agora acabou, ou deveria ter acabado, pois a bíblia é clara neste aspecto – Jesus com o Seu precioso sangue nos resgatou da nossa vã maneira de viver, que por tradição recebemos dos nossos pais (IPe 1.18). A palavra “vã” quer dizer sem valor, não serve para nada. Deus olha dos céus e nos vê vivendo de uma forma que não tem sentido, como um cachorro correndo atrás do rabo. E o pior é que aprendemos isto de nossos pais, ou seja, tradicionalismo puro.

Somos ensinados que vence quem se destacar mais – e levamos isto para as nossas igrejas: vale quem canta melhor, quem toca melhor, quem prega melhor, quem ora melhor, quem se comporta melhor…

Aos nossos olhos isto tem peso de glória. Mas se colocarmos na balança de Deus, não terá peso algum – Pesado foste na balança, e foste achado em falta (Dn 5:27).

O sussurro em nossos ouvidos continua: “Façamos um nome!”

Quando O noivo nos convida para o reino, devemos nos assentar nos últimos lugares, ficar lá embaixo mesmo, e Ele pessoalmente vem e diz: “Amigo, sobe mais para cima!” – Porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado (Lc 14:10,11)

Gosto de imaginar a cena, você sentado ali sem se preocupar com posições, pois a festa é do noivo e ele é quem deve aparecer. E de repente você escuta:

– Hei! Psiu!

Você olha e vê o Mestre com um sorriso e a mão estendida.

– Amigo vem! Quero você mais próximo de mim.

E você vai, sem se preocupar com posição. O que importa é que o Mestre lhe conhece, e Ele lhe chamou e lhe colocou ali. Ele sabe o que faz, a festa é dEle.

Mas infelizmente não é o que meus olhos têm visto…

Pessoas têm feito do evangelho uma cadeira nos primeiros lugares. Vale tudo! Desde falar em línguas estranhas, até profetizar o besteirol do dia. O que importa é ser conhecido e ter o reconhecimento, ser uma pessoa de nome e renome. A igreja perdeu seu sentido, deixou de ser um lugar onde temos tudo em comum, onde Deus é o elo que nos liga, o centro de todas as coisas – passou a ser um lugar onde se faz um nome.

Não consigo entender quando sabemos que devemos diminuir para que Ele apareça e vemos CDS intitulados “evangélicos” onde a capa é um verdadeiro Book, com fotos de todos os ângulos do cantor ou cantora. Você já se perguntou o por que da foto? Não teria por trás disto um sussurro: “Façamos um nome!”?

Pastores são conhecidos não pelo amor que exercem para com o próximo, mas pelo tamanho de suas igrejas, pelo número de membros ou por ter um programa no rádio ou na televisão.

Igrejas são conhecidas, não por cair na graça do povo, mas pelos seus excelentes músicos, por suas fórmulas de ganhar dinheiro, ou ainda pelos seus “sinais e prodígios”.

Perdeu-se o sentido de pastoreado corpo a corpo: pastor conhecer a ovelha, cuidar dela pessoalmente, sarar suas feridas, ajudar a caminhar neste mundo.

Ouve-se: “Façamos um nome!”.

Vamos! Façamos um nome! Construiremos uma torre, seremos vistos e conhecidos por todos. Novamente o homem está construindo a torre – a torre da fama, do ego e do orgulho. Basta levantar os olhos e ver a confusão em que se encontra o cristianismo hoje. Babel está de volta!

Quero ser conhecido sim, mas pelo meu Senhor…

Ele está voltando novamente e colocará esta torre no chão, e quando Ele chegar sei que me reconhecerá, não por ver minha foto no jornal ou na capa da revista; não por ter gravado milhares de Cds; mas como amigo íntimo, cooperador de seu projeto, ministro de sua graça. Reconhecerei a voz do meu Mestre dizendo:

– Vinde, bendito de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me.

Quando você escutar novamente a voz “façamos um nome”, responda com autoridade:
– Somente um nome deve ser exaltado! Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira, e lhe deu o nome que é sobre todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Este é o nome! Aleluia!

Acorda tu que dormes, pois o que é mais terrível em tudo isto é que por mais conhecido que alguém possa ser aqui neste mundo, não o impedirá de ouvir do próprio Cristo abertamente: “NÃO VOS CONHEÇO!”

Que ao nascer do sol até o lugar onde ele se põe, o nome do Senhor seja exaltado. Sobre todos os nomes.

Não nos alegremos pelo nosso nome ser exaltado aqui na terra, mas por tê-lo no livro da vida; E Eu confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. (Ap 3:5)

Louvado seja o nome de Deus!

Veja também de Dorian Anderson Soutto: A Bênção do Livro de Ester e Minha igreja e meus irmãos

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