de Dennis Downing

 

 

Duas crianças num quintal de casa. É noite, véspera de São João. Assistindo aos fogos que seus pais acendem, de repente, o menino olha para a menina e a vê, de forma diferente, como se nunca a tivesse visto antes. Com a luz dos fogos refletida nos olhos dela, a expressão naquele rosto lindo acesa pelo encanto das cores e sons, o menino enxerga a beleza dela pela primeira vez. E sente algo que nunca sentiu antes, que não compreende, e que nunca esquecerá.

Você lembra de algum momento assim? Tem algum registro da sua juventude de plena alegria ou pura paixão? Você lembra de alguma cena ou de algum momento no qual você se sentiu tão vivo que jamais se esqueceu? Lembra de alguém que lhe fez se sentir tão amado ou tão feliz, que nunca mais perdeu a memória daquele momento e daquela pessoa?

É época de São João. Doze dias depois do Dia dos Namorados. Pelo menos no nordeste do Brasil, é fogueiras e fogos de artifício. Como todas as coisas inflamáveis, eles têm algo em comum – aquecem e impressionam por um tempo, mas, são passageiros. A paixão, o sentimento, até o amor do Dia dos Namorados, é passageiro. Muitos daqueles momentos guardados em nossas memórias por uma vida inteira são lembranças de sentimentos que, por mais fortes, mais sinceros e puros que tenham sido, não durarão para sempre. A lembrança permanece, mas, a paixão, o sentimento em muitos casos só vive na memória.

Ainda que durem até a morte, o namoro, a paixão, o casamento, tudo que provém do amor humano tem limite. O marido passa desta vida. A esposa permanece o amando, recusando casar-se de novo, guardando pelo resto da vida dela o que só eles dois tiveram juntos. É admirável. É algo singular, que só eles dois experimentaram.

Mas, e quando ela vier a falecer? O amor e a paixão continuarão no além túmulo? Isso não é para baratear ou desmerecer o amor humano. Quando encontrado na sua forma mais pura e genuína é uma força quase sobrenatural! Casais que se mantêm fiéis e dedicados entrando na velhice, que cuidam um do outro, e se dedicam um ao outro, mesmo diante das perdas e fraquezas e das doenças devastadoras que vêem com a idade, devem ser admirados.

Mas, há algo que precisa ser enxergado. Aquele amor não é eterno. Um dia se não for por nenhuma outra força ou motivo – acabará diante da lápide. Até as letras em homenagem cravadas no granito podem durar mais que a vida daquele ou daquela que permaneça. Mas, aquele amor, como o granito, terá um fim e retornará ao pó.

Só um amor não tem fim. Só uma paixão dura para sempre. E isso nos leva de volta a nossa querida data de São João. Não são nas fogueiras e fogos, comidas típicas e danças folclóricas que encontraremos este amor. Ele ficou registrado, uma memória eterna, gravada nas páginas do velho livro tão pouco lido hoje em dia, mas, que foi justamente a fonte da história de São João.

João, conhecido como O Batista, foi filho de Zacarias e Isabel, primo de Jesus de Nazaré. Ele deve ter visto algumas cenas marcantes. Quem sabe, da prisão em Maquero, ao leste do Mar Morto, lembrou-se de algumas delas. Talvez ele se lembrou de um homem jovem, com aparência tranquila e ao mesmo tempo marcante, andando à caminho da praia. Será que João lembrou do momento quando virou para seus seguidores mais íntimos e sussurrou “Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo…”?

Outra cena. Como poderia esquecer? As águas turvas do Jordão. Alguns pastores de ovelhas, um comerciante e um soldado aguardavam na beira do rio enquanto João imergia um jovem nas águas. E lá estava Ele de novo. Pedindo para ser batizado. Anos depois, João podia lembrar o temor que sentiu, e sua própria indagação: “Eu é que preciso ser batizado por você, e você está querendo que eu o batize?”

E finalmente, naquela cela em Maquero, quando seus discípulos voltaram da Galiléia com a resposta à pergunta que o atormentava, a pergunta que João fez àquele que ele mesmo indicou como o Cordeiro de Deus: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?”E a resposta? “Os cegos vêem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa”.

Podemos imaginar o quanto aquela resposta deve ter penetrado no coração de João Batista, enquanto ele aguardava a “justiça” de Herodes. Penando numa cela no fundo de um castelo construído por tiranos e ocupado agora por um dos descendentes mais corruptos destes tiranos. Luta armada não teria. Machado nas raízes podres de governantes perversos? Nem tampouco. Será que João sabia o quanto Herodias o odiava, das ciladas que ela tramava? Será que ele se importava com o resto de vida que estava por um fio?

Dúvidas? Acredito que sim. Entretanto, maior que as dúvidas, mais forte que o temor, um sentimento poderoso demais para ignorar – amor. Exatamente quais pensamentos passaram pela cabeça de João Batista, enquanto aguardava suas últimas horas de vida, só conheceremos do outro lado desta vida. Mas, uma coisa sabemos, o homem a respeito de quem o próprio Jesus declarou “entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista”, confiou na palavra de Jesus. João aceitou a resposta do seu amado Senhor. Não questionou mais. Permaneceu fiel, e O amou até o fim.

Amor? Isso, sim, foi amor, João. Amor que vencerá o túmulo e o tempo. Amor, que será lembrado, guardado, correspondido, e comemorado pela eternidade. Este é o amor que não acaba. E benditos aqueles que o descobrem e se entregam à sua paixão. Benditos aqueles que conhecem o amor de Jesus, e que O amam até o fim. Felizes verdadeiramente são – e serão pela eternidade.

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Muito obriagdo pelas visitas aos anunciantes. Que Deus lhe abençoe!



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