de Severino Gomes

 

Vivemos num mundo em guerras. Dizem as estatísticas que existe mais tempo de guerra na história do homem do que períodos de paz. Até parece que guerrear faz parte da natureza humana. Nações investem milhões em armamentos, em pesquisas voltadas à guerra, no sustento de tropas, etc. O cristão, todavia, é chamado a uma vida de paz: “Quanto ao mais, irmãos, regozijai-vos, sede perfeitos, sede consolados, sede de um mesmo parecer, vivei em paz; e o Deus de amor e de paz será convosco.” (2 Co 13:11 RC; veja Rm 12:18; Jo 14:27)

 

Por outro lado, o apóstolo Paulo nos informa que existe uma outra guerra em uma outra dimensão, em um outro nível, como queira chamar, da qual o cristão não pode se esquivar. Muito pelo contrário, o cristão é o alvo. “porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes”. (Ef 6:12) Esta guerra invisível afeta todas as esferas da nossa existência: de uma simples amizade ao governo das nações. Um exemplo claro desta permissividade vem de Daniel 10, onde as orações de Daniel foram ouvidas, mas a resposta às suas orações foi atrasada por conta de um conflito nas regiões espirituais (observe especialmente versículos 12 e 13).

Onde esta luta contra o invisível é travada? No mesmo trecho acima Paulo nos diz quais as armas, mas será que existe um ponto médio, um ponto de encontro entre este mundo e o outro onde esta luta é travada? Sim, existe com certeza. Em 2 Coríntios 10 Paulo nos revela detalhes acerca da arena desta luta. Na defesa de seu ministério respondendo a acusações de que é fraco, o apóstolo retoma ao tema de uma guerra além das dimensões físicas. Ele acrescenta:

Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão. Observai o que está evidente. (2Co 10:3-7a)

A luta do cristão é no mundo das idéias e dos raciocínios. De fato, a palavra sofismas na tradução de JFA-RA acima também pode ser traduzida por raciocínios (BJ), falsas idéias (BLH), ou ainda argumentos (NVI). Curioso que o termo grego traduzido sofisma é o mesmo termo de onde tiramos lógica, argumentação. No fundo lutamos contra idéias, argumentos e lógicas. Lutamos contra pensamentos, falácias e acusações. Contra hipóteses e preconceitos. Nossa luta não é contra armas e músculos, mas contra algo bem mais profundo e maleável: o intelecto humano.

Embora não atinemos, mas muitas vezes por trás de cada propaganda de marketing, de cada ensinamento, de cada desobediência e arrogância humana, há um argumento, um pensamento, embora falso, tentando justificar cada ação. Então quando nos alinhamos a algum destes (e muitas outras coisas da vida), na verdade estamos aderindo àquela linha de raciocínio. O perigo jaz, contudo, quando aderimos sem levarmos este ou aquele argumento à luz da Palavra e/ou à presença de Deus em oração. Precisamos apurar nossa percepção, abrir nossos olhos, estar alertas (Ef 1:18; Cl 1:9; 1Pe 5:8). Para começar, sigamos, então o próximo conselho de Paulo: “Observai o que está evidente.”

 

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