de Max Lucado

O dia 12 de junho, pelo menos no Brasil, é o “Dia dos Namorados”. Nesse dia muitos vão se encontrar, festejar, comemorar. Mais um ano em namoro, ou já casado. Para alguns será o primeiro Dia dos Namorados juntos… Mas, para outros, será um dia não para comemorar, mas, para lamentar, muitas vezes em silêncio, sem demonstrar, a solidão que sentem por não terem “alguém” especial ao seu lado.

Compartilhamos esta reflexão de Max Lucado sobre namoro e amor para, quem sabe, colocar as coisas em um pouco de perspectiva. Se você conhece alguém que não estará “comemorando” o Dia dos Namorados, e que esta reflexão pode ajudar, então, por favor, compartilhe, enviando o link no final, ou usando o post na página do iluminalma no Facebook. E Deus lhe abençoe.

Para os que tiveram de suportá-lo, o verão de 1980 em Miami não foi nada agradável. O calor da Flórida escaldava a cidade durante o dia e a assava à noite. Tumultos, saques e tensão racial ameaçavam romper os nervos desgastados das pessoas. Tudo subia: o desemprego, a inflação, o índice de criminalidade e especialmente o termômetro. Em meio a tudo isso, um repórter do Miami Herald conseguiu uma história que deixou toda a Costa do Ouro sem fôlego. Foi a história de Judith Bucknell. Atraente, jovem, bem-sucedida e morta.

Judith Bucknell foi o crime número cento e seis nesse ano. Ela foi assassinada numa noite quente, a nove de junho. Idade: 38 anos. Peso: 45 kg. Esfaqueada sete vezes. Estrangulada.

Ela mantinha um diário. Se não fizesse isso, talvez a sua memória fosse sepultada com o seu corpo. Mas o diário existe; um epitáfio penoso de uma vida solitária. O correspondente fez este comentário sobre os seus escritos:

Em seu diário, Judy criou um personagem e uma voz. O personagem é ela mesma, ansiosa, lutando, cansada; a voz é cheia de desejo. Judith Bucknell não conseguiu se “conectar”; idade 38, muitos amantes, muito amor oferecido, nenhum retribuído.

Suas dificuldades não eram incomuns. Ela se preocupava com envelhecer, engordar, casar-se, ficar grávida e com a passagem do tempo. Morava na elegante Coconut Grove (que é o lugar onde você mora quando vive sozinha, mas procura aparentar felicidade).

Judy era o modelo perfeito do ser humano confuso. Metade de sua vida não passava de fantasia, a outra metade de pesadelo. Bem-sucedida como secretária, mas uma negação no amor. Seu diário estava repleto de anotações assim:

Onde estão os homens com as flores, a champanhe e a música? Onde estão os homens que telefonam e pedem um encontro verdadeiro? Onde estão os homens que querem compartilhar mais que minha cama, minha bebida, meu alimento… Eu queria ter em minha vida, uma vez antes que passe pela vida, o tipo de relacionamento sexual que faz parte de um contato de afeto.

Ela nunca teve.

Judy não era uma prostituta. Ela não era viciada, nem um caso do departamento de bem-estar social. Jamais foi presa. Não era repudiada pela sociedade. Era respeitável. Dava festas. Usava roupas de boa qualidade e tinha um apartamento que olhava para a baía. E era muito solitária. “Vejo as pessoas em grupo e fico com tanta inveja que quase desmaio. E eu? E eu?” Embora rodeada de gente, se achava numa ilha. Apesar de ter muitos conhecidos, possuía poucos amigos. Embora tivesse muitos amantes (59 em cinqüenta e seis meses), tinha pouco amor.

“Quem vai amar Judy Bucknell?” o diário continua. “Sinto-me tão velha. Mal amada. Indesejada. Abandonada. Usada. Quero chorar e dormir para sempre.”

Uma mensagem clara transparecia de suas palavras doloridas. Embora seu corpo morresse a 9 de junho, ferido de faca, seu coração morrera muito antes… de solidão.

“Estou sozinha”, escreveu ela, “e quero compartilhar alguma coisa com alguém.”

Solidão.

É um grito. Um gemido, um lamento. E um suspiro cuja origem está nos recessos de nossas almas.

Você pode ouvi-lo? A criança abandonada. Os divorciados. A casa silenciosa. A caixa do correio vazia. Os dias longos, as noites mais longas ainda. Esperar em vão por uma noite. Um aniversário esquecido. Um telefone silencioso.

Gritos de solidão. Ouça de novo. Desligue o barulho do trânsito e da TV. O grito ali está. Nossas cidades estão repletas de Judy Bucknells. Você pode ouvir seus gritos. Pode ouvi-los nas enfermarias, entre os suspiros e os pés se arrastando. Pode ouvi-los nas prisões entre os gemidos de vergonha e os apelos por misericórdia. Pode ouvi-los se andar pelas ruas bem tratadas, entre as ambições fracassadas. Procure ouvir nos corredores de nossas escolas, onde a pressão dos colegas separa os ricos dos pobres.

Este lamento em nota menor conhece todos os escalões da sociedade. Desde cima até embaixo. Desde os fracassos até os que têm fama. Desde os pobres até os ricos. Dos casados aos solteiros. Judy Bucknell não estava só.

Muitos de vocês foram poupados deste grito cruel.É claro que tiveram saudade de casa ou ficaram perturbados uma ou duas vezes. Mas, desespero? Longe disso. Suicídio? De modo algum. Fique contente porque ele não bateu à sua porta. Ore para que isso jamais aconteça. Se não tiver travado ainda esta bata-lha, deve continuar lendo se desejar, mas estou na verdade escrevendo para outra pessoa.

Estou escrevendo para aqueles que conhecem este grito de primeira mão. Para aqueles de vocês cujos dias estão cheios de corações partidos e noites compridas. Para aqueles que podem encontrar um indivíduo solitário simplesmente olhando no espelho.

Para vocês, a solidão é um estilo de vida. As noites de insônia. O leito solitário. A desconfiança. O medo do amanhã. A mágoa sem fim.

Quando começou? Na sua infância? Por ocasião do divórcio? Ao aposentar-se? No cemitério? Quando os filhos saíram de casa?

Talvez você, como Judy Bucknell, enganou todo mundo. Ninguém sabe que é solitário. Por fora a embalagem é perfeita. Seu sorriso é rápido. Seu emprego é estável. Suas roupas são finas. Sua cintura é delgada. Sua agenda está cheia. Seu andar é enérgico. Sua conversa impressiona. Mas quando se olha no espelho, não engana ninguém. Quando está sozinho, a duplicidade acaba e surge o sofrimento.

Ou talvez você tente esconder as coisas. Quem sabe foi sempre aquele que olha de fora do círculo e todos sabem. A sua conversa é um pouco desajeitada. Sua companhia poucas vezes solicitada. Suas roupas são desgraciosas. Sua aparência comum. Ziggy é seu herói e Charlie Brown seu mentor.

Estou atingindo o alvo? Se estou, se você concordou com a cabeça ou suspirou de compreensão, tenho uma mensagem importante para você.

O grito mais doloroso de solidão na história não veio de um prisioneiro, de uma viúva ou de um doente. Mas veio de uma colina, de uma cruz, de um Messias.

“Deus meu, Deus meu!” ele gritou, “Por que me desamparaste?” (Mat 27:46)

Jamais as palavras contiveram tanta dor. Jamais alguém sentiu tanta solidão.

A multidão se cala quando o sacerdote recebe o bode; o bode puro, imaculado. Em sombria cerimônia ele coloca as mãos sobre o animal jovem. Enquanto o povo assiste, o sacerdote faz a sua proclamação. “Os pecados do povo estejam sobre ti.” O animal inocente recebe os pecados dos israelitas. Toda a cobiça,adultério e engano são transferidos dos pecadores para esse bode, esse bode expiatório.

Ele é levado então até às extremidades do deserto e ali libertado. Banido. O pecado precisa ser purificado e o bode expiatório é assim abandonado. “Corra, bode! Corra!”
O povo fica aliviado.
O Senhor foi apaziguado.
O portador do pecado está só. (Lev 16:22)

Agora, no Lugar da Caveira, o portador se acha de novo sozinho. Cada mentira contada, cada objeto cobiçado, cada promessa quebrada pesa sobre seus ombros. Ele foi feito pecado.

Deus se afasta. “Corra, bode! Corra!”

O desespero é mais escuro que o céu. Os dois que eram um são agora dois. Jesus, que estivera com Deus na eternidade, se encontra s6. O Cristo, que era uma expressão de Deus, foi abandonado. A Trindade se destroçou. A Divindade se dividiu. A união foi dissolvida.

Isso é mais do que Jesus pode suportar. Ele agüentou os açoites e permaneceu firme frente aos falsos julgamentos. Ele observou em silêncio a fuga dos entes queridos. Ele não revidou quando insultos lhe foram atirados nem gritou quando os pregos penetraram em seus pulsos.

Mas quando Deus voltou a cabeça, foi demais.

“Deus meu!” O lamento saiu de lábios ressequi-dos. O coração santo se partiu. O portador do pecado grita ao vagar pelo deserto eterno. Do silêncio do céu se ouvem as palavras gritadas por todos os que andam pelo deserto da solidão. “Por quê? Por que você me abandonou?”

Não posso compreender. Sinceramente não consigo. Por que Jesus fez isso? Oh, eu sei, eu sei. Ouvi as respostas oficiais. “Para satisfazer a velha lei.” “Para cumprir a profecia.” E essas respostas estão certas. Mas há algo mais em tudo isso. Algo que fala de compaixão. Algo ansioso. Algo pessoal.

O que será?

Posso estar errado, mas continuo pensando no diário. “Sinto-me abandonada”, escreveu ela. “Quem vai amar Judith Bucknell?” E fico pensando nos pais cia criança morta. Ou no amigo ao lado do leito de hospital. Ou dos idosos no abrigo de velhos. Ou dos órfãos. Ou na enfermaria de cancerosos.

Fico pensando em todos que olham em desespero para os céus sombrios e clamam: “Por quê?”

E imagino a ele. Imagino quando ficou à escuta. Penso em seus olhos se embaciando e a mão ferida afastando uma lágrima. Embora não possa oferecer resposta, embora não possa resolver qualquer dilema, embora a pergunta possa congelar-se penosamente no ar, ele que também ficou certa vez sozinho, pode compreender.

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