de T. Suzanne Eller

 

 

A pequena igreja estava lotada. Ao meu redor pessoas adoravam um deus que eu não acreditava que existisse. Por que eu estava lá? Meu vizinho me pediu que viesse. Para ser honesta, eu pensei que eles só me deixariam em paz se o eu fizesse.

Eu não sabia o que esperar. Eu havia ido aos cultos algumas vezes com minha família, mas era mais um ritual ou um jeito de celebrar feriados. O que eu não esperava era sentir meus olhos molhados quando eu os fechei.

Meu lema? Nunca deixe alguém lhe ver chorando. Eu não estava a ponto de descompensar na frente de pessoas que não conhecia. Eu não estava chorando porque eu senti a presença de Deus ou o amor dele por mim. Eu lutei contra as lágrimas porque eu estava revoltada, tão furiosa que eu tremia dentro de mim. Como podia o pastor ficar em pé e falar sobre o amor de Deus? Era muito fácil para ele e pessoas parecidas com ele proclamar um Deus que existia, que tinha um propósito para cada um. Talvez o Deus deles tinha se interessado pessoalmente por eles, mas ele não vivia na minha casa.

A mãe que eu estou a ponto de compartilhar com você não é a mãe que eu tenho hoje. Ela teve um encontro com Deus, e ele a tirou da escuridão de dor emocional e a curou. Para compartilhar minha história, eu tenho que compartilhar um pouco da história dela também.

Minha mãe saiu de casa aos 16 anos, grávida e recentemente casada com um menino que pensava que era um homem. Ela perdeu o primeiro bebê devido a fibrose cística quando a criança tinha menos de dois anos. Ela teve o segundo filho aos 18 e deixou o marido dela aos 21. Ele veio visitá-la uma noite e a forçou a ter relações sexuais. Ela descobriu duas semanas depois que ficara grávida.

Eu era aquele bebê.

Mamãe se casou com um homem bom que amou a ela e aos seus dois filhos que vieram como parte do “pacote”. Mas apesar destes eventos, minha mãe era frágil. Como um vitral de vidro colorido, ela era bonita no lado de fora, mas os pedaços quebrados da vida dela criaram o retrato.

Crescendo, eu nunca soube o que esperar. Seria a mãe que trouxe para casa pirulitos para nos presentear de surpresa, ou a mulher que gritava coisas horrorosas enquanto corria para a rua ameaçando se matar? Havia abuso físico e pedidos de desculpas. Havia castigos humilhantes, palavras severas, e pedidos chorosos de perdão.

Por favor, não me entenda mal. Nem sempre era ruim em minha casa, mas quando era, era barulhento e caótico e amedrontador. Eu temi que um dia que minha mãe apertaria o gatilho ou se feriria. Eu odiava as palavras que saíam da boca dela quando ela estava irada.

Um dia minha mãe me perseguiu pela casa, enquanto me ameaçava com um guarda-chuva, gritando comigo. Eu corri para fora e fui para a chuva. Eu estava usando uma camiseta, calça jeans e estava descalça. A chuva fria me castigava enquanto eu corria pela Rua Latimer. Eu me esforcei contra a torrente, batendo meus braços e correndo quão rápido quanto eu pude. Finalmente eu parei, me baixando para conseguir respirar enquanto minhas lágrimas se misturavam com os pingos de chuva. Lentamente eu me virei e caminhei para casa, sentei no meio-fio, e chorei até que minha garganta se fechou.

Eu estava presa. Eu não podia fugir. Eu não tinha nenhum dinheiro, nenhum lugar para ir. Eu tinha 13 anos. Onde eu poderia ir?

Eu comecei a fumar no ponto de ônibus, testar os limites dos meus professores, e beber com meu melhor amigo. Minhas tentativas de dar uma de dura devem ter aparecido hilárias aos outros. Eu era magra até dizer basta e parecia mais jovem que minha idade. Minha dureza não vinha com naturalidade. Meu coração era meigo e eu detestava conflito e brigas. Contudo, toda vez que eu baixava minhas defesas, alguém me machucava.

Palavras bravas, afiadas e pontudas, uma faca em minha alma.

Foi aí que a dureza entrou em mim. Nunca os deixe lhe ver chorar. Nunca lhes dê uma chance de saber que você se importa.

Um dia foi a gota d’água. Minha mãe nos botou ao redor dela no quarto. Ela pôs uma pistola à cabeça dela e ameaçou atirar em si. Eu estava assustada. Não porque eu pensei que ela morreria, e sim porque debaixo de minha respiração eu sussurrei, “faça logo.”

Quem era esta pessoa que eu estava me tornando?

Dois anos mais tarde eu estava em pé na pequena igreja. O pastor cantava, tocando o violão, enquanto pessoas se ajoelhavam diante do altar. “Ele lhe ama”, ele disse. “Ele tem um plano para sua vida.”

Claro, sem dúvida. Eu apontei meu queixo para o céu, meus olhos fechados, e eu desafiei este Deus do qual ele falou. “Se você é real”, eu sussurrei, “e eu não acredito que você é, mas se você existe, e você me conhece, e você me ama como ele disse, eu preciso saber.”

Eu não esperava nada, todavia eu recebi tudo quando um toque tenro se estendeu além do meu coração endurecido. Eu tenho tido dificuldade em explicar aquele momento às pessoas com o passar dos anos. “Você viu Deus?” Não. “Você sentiu a presença de Deus?” Sim, mas tão sutil e profunda dentro de mim, tocando áreas que eu tinha fechado havia tanto tempo a qualquer pessoa, que eu sabia que era Deus.

Lágrimas correram e fluíram pelas minhas bochechas, e pela primeira vez em muito tempo eu chorei. Eu senti como se Ele tivesse me envolvido numa manta aquecida, me abraçando no Seu amor. Eu cambaleie da igreja. Eu corri para casa e contei para minha mãe que eu havia acabado de ser “salva”, entretanto eu realmente não entendia o que tinha acontecido.

Tudo mudou milagrosamente? Não. Minhas circunstâncias ainda eram as mesmas, mas tudo era diferente dentro de mim.

Eu cometi erros, enormes besteiras enquanto tentava aprender o que era seguir a Jesus como meu Salvador. Eu não era perfeita, mas eu entendi o amor dele. Eu entendia que eu queria saber mais. As pessoas daquela pequena igreja ministraram a mim de maneiras que eles nunca saberão. Houve vezes em que eu chorei diante do altar e daí fui para o caos da minha casa. Houve vezes em que eu tropecei em meu caminhar com Cristo e o encorajamento sensível deles me ajudou a continuar andando.

É impressionante o que pode acontecer quando Deus restaura uma vida quebrada. Pode ser lindo como o retrato da minha mãe agora, os pedaços quebrados da vida dela reunidos num quadro bonito da misericórdia de Deus.

Hoje eu sou uma mãe, autora, palestrante, e esposa. Eu tenho a oportunidade de ministrar a adolescentes e mulheres por toda a nação, compartilhando a história de minha vida e a beleza de propósito, e o fato que Deus nos amou desde o princípio. Minha mãe e meu pai foram salvos quando eu estava no meu terceiro ano de escola secundária. Eu achei um bilhete do meu pai debaixo de meu travesseiro um dia. Eu ainda o carrego comigo. Os pedaços esfarrapados são uma lembrança do que Deus fez. Meu pai quieto que muito raramente compartilhou a profundidade das emoções dele, disse naquela carta, “Eu tenho lhe observado, e eu sei que você tem algo que é de grande valor, um tesouro. Eu sei que é real e eu lhe admiro por sua fé e seu amor por Deus.”

Nós nunca falamos daquele bilhete, mas eu o recebi numa época quando eu orei por um sinal. “Deus, mostre para mim que você ouve minhas orações. Cure minha família. Mostre-me que você está escutando.” O pedaço dobrado de papel debaixo de meu travesseiro foi enviado do céu e tinha valor inestimável.

Há anos eu e minha mãe somos grandes amigas. Ela é compassiva, amável, e íntegra, e as recordações de nosso passado foram perdoadas e esquecidas.

Hoje eu ainda estou correndo atrás do mesmo Deus que tocou minha vida quando eu tinha 15 anos. Eu sempre conto para meu público de adolescentes que um dia eu serei uma mulher velhinha correndo atrás de Deus com minha bengala. Você vê, ele tem feito um milhão de coisas por mim. Ele tem me acompanhado por tempos difíceis, mas meu amor por ele sempre estará ligado àquele primeiro momento quando ele buscou e alcançou uma revoltada, dolorida, e magra jovem de 15 anos, e silenciosamente sussurrou que ele me amava.

E eu ainda não consigo deixar de sussurrar de volta, “Eu também te amo”.

 

 Copyright © 2005 T. Suzanne Eller. Todos os direitos reservados.